Thursday, December 08, 2005

Conversas Ribeirinhas



Pedro Ribeiro teve um orgasmo

A SIC Radical, num novo esforço de tornar mais acéfala e barata a sua programação preferiu tirar o sem dúvida excelente e inteligente The Daily Show with Jon Stewart para colocar o radialista Pedro Ribeiro na qualidade de entrevistador. O resultado depois de mais um mês de programas é que finalmente Pedro Ribeiro teve um orgasmo após uma entrevista com a jornalista Maria Pinhão que é benfiquista dos sete costados. Isto no sentido figurativo claro. De facto esta entrevista foi a única vez em que Ribeiro nadou como um peixe, com extremo prazer exacerbado no que fazia e com clara competência e conhecimento. Foi um desfilar furioso e arrebatador de perguntas irónicas e de chalaças quase privadas como só podia haver entre dois fanáticos benfiquistas.

Pedro Ribeiro só sabe falar muito bem de três coisas. U2, futebol e mais que tudo futebol do Benfica. É que Ribeiro é alguém de um discurso muito limitado como sempre o tinha demonstrado na apresentação do Curto-Circuito. Para homem da rádio, musicalmente então o seu conhecimento é quase embaraçante não escapando dos grupos mainstream sejam nacionais ou internacionais. Após ter estado na Comercial, depois na Best-Rock e finalmente ter aterrado na Rádio Clube Português (ex-Nostalgia) este afunilamento é bem condizente com a sua cultura musical. Sempre foi desconcertante ver quando no C.C. se falava de algo fora da lógica mainstream (fosse música, filmes ou simples quotodiano) mostrava quase sempre ignorância. Perante tal fazia "caretas" como se a simples existência de "tal coisa" fosse per si algo contra-natura. E o problema é que no seu limitado mundo quase tudo mais "jovem", "alternativo" e "radical" é uma aberração para este apresentador. Algo claramente estranho em alguém que apresentava um programa "jovem" como o Curto-Circuito.

Mas mesmo quando na presença de entrevistados relacionados com o futebol, Pedro Ribeiro é infeliz. Por ex. com Hugo Viana foi um desfilar de piadas anti-Sporting. Com Luís Miguel Pereira, que fez a biografia de Boloni, Simão Sabrosa e Jardel, foi quase sempre constante a procura de perguntas embaraçosas sobre a decadência do ex-goleador do Sporting a vir ao de cima. Como resposta, o jornalista Miguel Pereira mostrou-lhe o que significa ética jornalística. O problema nisto é que o que até podia ter uma abordagem interessante em certas perguntas não o é, porque é feita sob uma perspectiva nada profissional e em que somente se procura humilhar um clube que não é o seu. E não fico ofendido porque tenho costela de lagarto pois a minha opinião manter-se-ia mesmo que tivesse sido um ataque anti-dragão ou anti-lampião.

E seja com que entrevistado for, mesmo remotamente pertencendo ao seu amado mundo futebolístico Ribeiro tem sempre de fazer menções, piadas e perguntas à força sobre futebol. Por exemplo mencionou despropositadamente Karagounis numa entrevista com Sónia Tavares dos Gift ou engonhou numa conversa sobre futebol com David Fonseca mesmo após este ter dito que detestava futebol. Até na presença de Miguel Angelo dos Delfins uma simples referência deste que tinha cantado na canção do Centenário leonino foi corda para mais conversa futebolística e onde pode não se escusou a dar largas ao seu escárnio anti-sportinguista.

Há entrevistadores que põem bastante da sua personalidade na condução de uma entrevista. Pedro Ribeiro faz isso em demasia tornando a entrevista enjoativa e por vezes de mau gosto. Pedro Ribeiro até é carismático devido às suas piadas ribeirinhas que o tornaram famoso. Tem uma naturalidade à frente das câmaras notável mas é tudo quando a virtudes profissionais nele. Falta-lhe principalmente cultura para ser entrevistador. Não basta pesquisar na Internet sobre o entrevistado ou ter alguém que lhe faça pesquisa. Porque não é só nas suas conversas limitadas e na sua tamanha imparcialidade que ele falha. Falta-lhe igualmente técnica de entrevista. As suas entrevistas são geralmente feitas de recuos e avanços nas temáticas onde diz ao entrevistado para não esquecer do que ia dizer para entretanto perguntar outra coisa e mais tarde tentar retomar. Também já são usuais o "estamos a terminar esta entrevista mas não resisto de antes perguntar somente" e depois perguntar uma, duas, três ou mais coisas até que o tempo previsto da entrevista se esgote. Entrevistar é algo que Pedro Ribeiro disse sempre sonhar fazer. Por favor desista do sonho. É que são um pesadelo as suas entrevistas de vinte minutos que são tão medíocres como aqueles breves flash-interviews após um fim de jogo só se lembram de perguntar ao jogador que venceu "então está feliz?".

Pedro Ribeiro passou uma temporada a promover os nomes da casa. Pinto Balsemão (presidente da SiC), Marco Horácio (humorista da SIC), Teresa Tavares (ex-apresentadora do CC/ futura actriz num projecto SIC Radical), João Garcia (alpinista patrocinado pela SIC), Rodrigo Guedes de Carvalho (Jornalista SIC), David Fonseca (músico promovido pela SIC), Zé Pedro (membro dos Xutos, banda nuclear do Rock in Rio, apoiada pela SIC), Cláudia Semedo (apresentadora da SIC), Fernando Rocha etc etc. Agora despachado um primeiro pacote de nomes da casa, Pedro Ribeiro parece mais liberto para escolher entrevistados ao seu gosto e ameaça segundo ele iniciar um ciclo onde promete falar sobre fanatismos do futebol. Oh mais orgasmos se seguem então...

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