Saturday, July 22, 2006

Docs



Documentários: O Estado da Arte

O documentário parecia anos atrás um daqueles objectos que mais tarde ou mais cedo iria desaparecer perante um público cada vez virado para o lazer tanto no cinema como na televisão. Mas graças à massificação da televisão por cabo mundo fora isto não veio a suceder e ganhou lá o seu espaço.

Curioso é ver como os documentários tem ocasionalmente ganho espaço em salas nos últimos anos. Tímidamente começou-se com Microcosmos (1996) e vários documentários de vida natural/estilo Imax como a Marcha dos Pinguins (2005) que foi sucesso de bilheteira. Mas estes sempre pactuaram com o "vazio mental" praticado no cinema americano não sendo mais que puro entretenimento familiar. Mas certamente abriram caminho para outros mais incómodos como os manifestos políticos de Michael Moore que foram igualmente um sucesso. Depois surgiu o divertidos Super Size Me (2004) e Guinness Size Me (2005) abordando hábitos de consumo alimentar. Este ano além do documentário de que falo no post anterior já tinhamos tido "Who Killed The Electric Car" também abordando de certa maneira a ecologia. Além de parecer haver vagas temáticas de documentários há principalmente há agora uma maior aposta em temas mais sensíveis o que poderá significar que os distribuidores tem menos medo em exibir documentários mais ousados.

Isto é bom porque pelo inverso tem se assistido a um decréscimo qualitatitivo dos documentários exibidos em televisão. Aumentou é verdade o número de canais ditos documentais seja de biografias, sobre natureza ou até artes mas infelizemente essa massificação trouxe a "estupidificação" do documentário nos dias de hoje certamente tentando-o cada vez mais torná-lo o mais acessível aos telespectadores. Assim documentários sobre animais passam grande parte pela procura do animal mais venenoso, mais mortal, mais X, mais Y. Documentários históricos são meramente reconstituições de batalhas à "braveheart", à "gladiador" e sem muito sumo informativo. E os bio-documentários tentam quase sempre mostrar a podridão e a queda de alguma estrela. Até canais públicos como o Canal 1 quando passa documentários não foge ao sensacionalismo e oportunismo popular. Recentemente foi a vaga de documentários em torno do Código Davinci quando da estreia do filme. E esta semana dedicou-se a um ciclo de documentários catástrofe em quase prime-time. Uma atitude nobre mas que merecia melhores contéudos. Bons contéudos esses que felizmente vão existindo na 2:. Bombordo, A Alma e a Gente de Hermano Saraiva, o excelente Périplo - Histórias do Mediterrâneo com Miguel Portas entre outros bons programas documentais. Mas até na 2: assistimos a documentários como os da Discovery e National Geographic que piscam o olho a um lazer mais despreocupado.

Portanto podemos por enquanto considerar o documentário como tendo algum futuro como não parecia ter anos atrás. Documentários para "massas" coexistem com documentários mais "elaborados". A industria cinematográfica vai dando algum espaço para os documentários se afirmarem nas salas de cinema. Canais televisivos públicos vão transmitindo as várias espécies de documentários. E em Portugal até temos o previlégio de termos um festival, o DocLisboa (cada vez mais prestigiado apesar da ainda curta vida) dedicados a eles. Sendo assim venham mais "docs". :)

1 comment:

atomo! said...

Sempre me pareceu um 'formato' muito interessante e que sempre esteve presente a história do cinema. O probemas é o de o público em geral estar a dormir, preferindo aqueles tipos de storytelling muito limpos em vez de ver algo que seja 'real'.

O facto é que uma boa história é sempre interessante. E parece que felizmente existem já muito exemplos que conseguiram agarrar público. E espero que essa tendência venha para ficar, mesmo competindo com um novo sub-género que é o de adaptar livros 'reais' a exemplos ficcionais (o Fast Food Nation adaptado para cinema pelo Richard Linklater, se não me engano)