
We Love You Bill
Judite de Sousa envergonhou-nos a todos. Aos portugueses e sobretudo a restante classe profissional. A jornalista tinha ao seu dispôr meia hora com Bill Gates. Um fabuloso furo que qualquer repórter gostava de ter. No entanto esbanjou a sua oportunidade numa entrevista inócua e enfadonha portando-se pior que uma estagiária e falando um inglês terrivelmente medíocre. Não houve uma única pergunta que fizesse Bill Gates pensar, a não ser quando este tinha de fazer esforço para perceber o inglês dela. Não houve perguntas concretas, apenas perguntas genéricas, leves, inconsequentes. Não fez perguntas para perceber como ele vê Portugal, porque o escolheu para tantos acordos e quais acha que são os pontos positivos do país,
se temos potencialidades que o seduzam. Não fez perguntas economicas e estratégicas sobre possíveis conselhos para empresários portugueses. Não confrontou Bill Gates sobre a conturbada relação da Microsoft e a Comunidade Europeia. Nem sobre os tantos falhanços e incapacidade da Microsoft em impôr-se na área da Internet. Nem sobre a concorrência do software livre, os novos caminhos multimédia, o comércio on-line ou sobre os projectos anunciados que tem para combater o iTunes. Nem pediu um comentário sobre o facto de Apple se ter aliado ao seu parceiro de sempre, a Intel. Aliás Judite não fez uma única pergunta que pudesse embaraçar levemente Gates. Por tal, não houve perguntas do qual se extraisse algo de verdadeiramente palpável e de algum valor. Até mesmo sobre a sua vida pessoal. Não seria outra pessoa da RTP capaz de fazer melhor?
Paradoxalmente penso que não. Poderia ter sido qualquer um a fazer esta entrevista. Temos de considerar que esta atitude de passividade da RTP foi deliberada e mesmo acordada. Não me admira se as perguntas tenham sido aprovadas, tal como a Administração Bush faz até quando visita uma escola. Temos de pensar em Judite como um simples peão nos interesses de Bill Gates, da Microsoft e do Estado Português. A RTP concedeu um tempo alargado de divulgação nos últimos dias a assuntos "Microsoft". Aliás a imprensa em geral empolgou-se com Gates. Eram notícias sobre as aulas de formação para desempregados têxteis, sobre a visita de Gates, a sua maravilhosa casa e os múltiplos acordos com o governo local. Até parecia que Bill era o Messias que vinha salvar Portugal e de fazer avançar com o "maravilhoso" plano técnológico de Sócrates.
E tudo foram rosas para tio Bill na mole entrevista. Bill Gates teve tempo e condições para passar uma imagem positiva, calma, optimista do seu trabalho humanitário, da visão de futuro que a Microsoft diz ter e o desejo de como quer ajudar a desenvolver toda a gente. A Microsoft usou Portugal como cavalo de Tróia para começar a melhorar a sua complicada posição na Europa com inúmeras multas, acusações e investigações. Judite, a RTP e Sócrates beijaram-lhe os pés e estenderam-lhe a passadeira vermelha. Só mesmo em Portugal se lambe-cús tão descaradamente.