Friday, January 13, 2006

Nostalgia AM





Nostalgia AM

Quando na RTP ouvi Júlio Isidro anunciar que ia editar um triplo CD e igualmente fazer uma emissão comemorativa e alusiva aos 25 anos da "Febre de Sábado de Manhã" confesso que quase me vinha uma lágrima ao olho. Apesar de já só ter poucas memórias dos directos do Nimas, ainda me recordo vagamente do frenesim, dos jogos e loucos passatempos dessas emissões.

É com extrema saudade que me lembro do rádio na cozinha que coloria o ar da casa, de manhã até ao princípio da noite nesses idos anos. A RDP - Radio Comercial em AM era a estação sintonizada e passei grande parte da minha infância a ouvir os programas dessa emissora. Só mais tarde, já numa época mais FM se mudou cá por casa para a Renascença numa altura que António Sala e Olga Cardoso eram líderes do éter, mas isso são outras estórias e é já outra época. Hoje em dia, já nem rádio há na cozinha e foi a TV que se "camuflou" de rádio.

Apesar de o humor dos Parodiantes de Lisboa hoje em dia ser para mim demasiado insonso não tenho vergonha nenhuma em confessar que era talvez o programa dos tempos da rádio que mais gostava. Adorava estar em companhia do Patilhas e Ventóinha nos meus almoços mal chegasse da escola. E além do seminal "Graça com Todos" se fosse possível ouvia os outros programas dos irmãos Andrade como o "Piadinhas & Torradinhas".

Só mais tarde com o Pão com Manteiga de entre outros dos célebres Carlos Cruz e Mário Zambujal é que descobri um humor com que me identifico mais hoje. Era um programa estranho de um humor sem nexo mas a verdade é que me fascinava todo aquele absurdo.

E há sempre o mítico "Quando o Telefone Toca" com o habitual "posso dizer a frase?" ou o "já foi pedida" onde desfilavam os hits da época. Mais do que tudo ainda conservo na memória da única vez que tive a coragem de pedir um disquinho. O que tenho alguma vergonha é de dizer mesmo o que pedi...

Mas não tenho na memória momentos mais agradáveis que aqueles domingos quando bem cedo se passava clássicos antigos da rádio, melodias de que nem sabia os nomes mas que harmonizavam com o céu azul e solarengo dessas manhãs e sobretudo com o "dolce faire niente" próprio de uma infância. Agora nos tempos modernos, já liguei algumas vezes o rádio da aparelhagem hi-fi e toco no botão que faz a viagem "intergálatica" do FM para o AM. No meio de um "espaço" agora tão deserto lá se descobre uma das poucas estações que ainda resta na onda curta. Mas já tem o mesmo sabor. Mesmo sendo Domingo, mesmo estando Sol, a música que passa já não é a mesma, o rádio já não é um barato altifalante mono e sobretudo eu não me sinto o mesmo que era.

Trintões e quarentões levarão as suas famílias a uma das salas do Pavilhão Atlântico dia 28 de Janeiro tentando mostrar-lhes os momentos únicos que viveram nesses dias. Mas da mesma forma do que me acontece penso que quando Júlio Isidro tentar reviver o seu mítico programa nunca terá a mesma magia. Esses instantes eram mesmo únicos, irrepetíveis e perdem todo o sabor fora daquele tempo. Há recordações que não se repetem por muito que se queira.

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Nota : O Espectáculo mesmo que não tenha o sabor de outrora tem a nobre causa de contribuir para a Associação das Doenças Raríssimas. O preço são uns modestos 5 euros.
Informações sobre o Evento

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